domingo, 10 de janeiro de 2010

Paraty - para mim, para você!

Passado o reveillon 2010, fomos à Paraty, embora com um certo receio tendo em vista os últimos acontecimentos (deslizamento de parte das montanhas na Ilha Grande, o que levou a um estudo informando que 70% da região incluíndo Angra dos Reis e Paraty está comprometida, e o trecho da Rodovia Rio-Santos que na entrada de Angra dos Reis houve um desmoronamento de metade da pista) ainda assim arriscamos.
Para não ter tanto stress na viagem, que seria de carro, optamos por ir de ônibus.


Paraty é uma cidadezinha agradável, repleta de turistas e em sua maioria estrangeiros. Notei uma grande parte de italianos e franceses.

É um excelente lugar para uma fuga a dois! Um refúgio que te dará lembranças inesquecíveis!

Pela manhã se vê poucas pessoas no centro histórico, é que o dia é geralmente destinado a passeios de barcos, praias, ou trilhas e cachoeiras.
O burburinho acontece mais à noite.






O Centro Histórico é a onda da cidade. Suas ruas construídas com pedras "pés-de-moleque" e suas casinhas todas brancas com detalhes coloridos nas portas dão o charme ao lugar. Mas nem sempre foi assim...
Paraty foi fundada em 1667 em torno da Igreja Nossa Senhora dos Remédios, inicialmente um vilarejo, mas foi no século XVIII que passou a ter maior importância, pois começou a ser construída, no período colonial, para ser apenas um porto de passagem do ouro que era extraído de Minas Gerais, Diamantina, para ser enviado para Portugal.


Com o advento do ciclo do ouro, recebeu trabalho escravo inicialmente dos índios que ali viviam, mas como eles conheciam bem a região e numa fuga era difícil encontrá-los, ou seja, como davam muito trabalho controlá-los, os expulsaram ou os mataram e mudaram a mão de obra escrava para os africanos, mas foram ainda os índios Guaianás que construíram a estrada que ligava Paraty à Diamantina.
Essa estrada foi ampliada e passou a se chamar Caminho do Ouro, pois era por onde passava o ouro até chegar no porto de Paraty.

Em 1870 construíram uma estrada ferrea entre Rio de Janeiro e São Paulo que passava pelo Vale do Paraíba para passagem do ouro, e Paraty como entreposto comercial de ouro perdeu a função.

Agora uma curiosidade: já ouviram a expressão "santo do pau oco"?
Essa expressão surgiu porque, para enganar o fisco da época, escondiam o ouro em imagens de santos feitos de madeira ocos por dentro para guardar o ouro da vista dos fiscais.






Paraty tem no seu conjunto arquitetônico sobrados onde inicialmente só haviam portas, fazer janela era desperdício de espaço, estes sobrados foram construídos com um único objetivo, estocagem de ouro, ou outra mercadoria de exportação.

Os beirais das casas diziam a respeito da condição social de seu morador: os beirais de cimalha identificavam os ricos, os do tipo cachorro identificavam pessoas mais pobres e as beiras-seveiras eram para as pessoas religiosas e militares.
Hoje você encontra casas com janelas, mas porque foram alteradas, e isso atualmente está proíbido. Também está proíbido o uso de carros no Centro Histórico.

Interessante é saber que a cidade foi construída no mesmo nível que o mar porque na época não havia banheiro, não havia saneamento, então as pessoas jogavam os dejetos na rua no dia seguinte, isso mesmo! Há documentos que comprovam isso.
Quando eles iam jogar tinham que gritar: "água vai!", caso contrário se sujassem alguém pagavam uma multa altíssima.

Então, estando no mesmo nível do mar, quando a maré enchia o mar lavava as ruas e o sal grosso matava os germes existentes que ficavam no local.
Hoje, evidentemente não se faz mais isso, porém Paraty fica sob água na época de maré cheia.





As ruas foram construídas sob as orientações de maçons, havia o arruador (pessoa responsável por organizar a disposição das ruas, das casas e praças) ele arquitetava o plano do vilarejo para o melhor bem estar das pessoas, portanto, uma de suas idéias foi a de não fazer as ruas alinhadas, ou seja, as ruas são desencontradas, como forma de fazer o vento circular pela cidade, e também permitir uma melhor distribuição do sol nas casas. Como havia o dedo dos maçons, faziam as construções deixando sinais indicativos de que existiam maçons ali, como por exemplo: nos encontros das ruas; as ruas ao se encontrarem, em suas esquinas possuem uma coluna em 3 pontos dessas esquinas ,de forma que se vê com isso um triângulo imaginário, símbolo dos maçóns, outro símbolo também são os desenhos geométricos nas paredes dos sobrados formando o triângulo.















Lá, vimos (foto ao lado) a casa do Don João de Orleans e Bragança que vira e mexe vai passar uma temporada em Paraty.

As casas nesse local de Paraty, dependendo do tamanho, custam em média atualmente R$1.000.000,00 a R$2.000.000,00.
















Quanto a parte religiosa, havia igrejas das madames ricas brancas, dos negros e dos pardos. Tudo e todos eram separados, socialmente falando.

A igreja de Santa Rita é a igreja símbolo de Paraty (foto ao lado) - Cartão Postal da cidade.








A igreja de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito era a igreja dos escravos (foto ao lado).

Bem, quando acabou a fase do ouro, Paraty começou a sobreviver da cachaça ainda no séc. XVIII, sendo conhecida como o melhor lugar de fabricação de pinga; sendo seguida pelo Ciclo do Café no séc.XIX que vinha do Vale do Paraíba.

Quando tudo isso acabou ficou um pouco esquecida.



Com a criação da estrada Rio-Santos o turismo nessa região se desenvolveu e atualmente a cidade vive disso, pois o turismo é intenso devido às maravilhosas praias, enseadas e ilhas que nos leva a imaginar como deve ser o paraíso, bem como a sua história ainda preservada através de sua arquitetura, o que a fez se tornar em mais um Patrimônio Histórico do nosso Brasil.

Como chegar:
Saindo do Rio de Janeiro = na rodoviária tem a companhia Costa Verde que possui horários variados, R$52,00 a passagem. O ônibus é relativamente confortável e levou 4 horas para chegar à Paraty devido aos problemas na estrada, em outras circunstâncias levaria 3 horas.

DICA: compre a passagem de volta em Paraty. Não sei bem o porquê, mas compramos a ida no Rio e deixamos para comprar a volta em Paraty e esta foi mais barata que a outra - R$48,00.